Quando Bruno Alves, criador da Chico Rei, lançou sua marca de roupas em Juiz de Fora, a empresa já alcançava faturamento de R$ 35 milhões, segundo dados da revista Exame. O número impressiona no cenário da moda nacional, ainda mais vindo de uma operação que começou num quarto apertado e que hoje tem nome reconhecido ao lado de lendas da cultura brasileira.
Origens e a escolha do nome
O nome Chico Rei não foi escolhido ao acaso. Ele remete ao líder congoles que, ao ser trazido ao Brasil no século XVIII, comprou a própria liberdade e ajudou outros escravizados a fugir. Bruno conta que, ao ouvir a história, ficou atraído pela força simbólica da palavra – liberdade, resistência, orgulho de Minas Gerais – mesmo antes de aprofundar os detalhes históricos.
“Quis uma identidade que falasse de emancipação, não só de moda, mas de atitude”, relembra o fundador, que ainda hoje visita as fábricas com as mãos nuas para sentir o tecido, um ritual que ele chama de "conversar com a matéria".
Estratégia de crescimento sustentável
Ao contrário de muitas startups que buscam explosão de vendas, Chico Rei optou por um caminho "slow growth". Bruno explica que a marca nunca tentou criar o famoso FOMO (medo de ficar de fora) nos consumidores. Em vez disso, focou em conforto e em peças que permitam ao cliente expressar quem realmente é.
Essa postura resultou em um portfólio de camisetas, moletons e acessórios que privilegiam o conteúdo gráfico. Cada estampa conta uma história – seja a luta de Chico Rei, seja a poesia de um samba antigo – e não apenas segue tendências passageiras.
Os números corroboram a estratégia: entre 2015 e 2024, a receita media cresceu cerca de 22% ao ano, sem quedas bruscas de demanda típica de modas sazonais.
Parcerias culturais que dão voz à marca
Um dos grandes diferenciais da Chico Rei são as colaborações com nomes icônicos da cultura brasileira e internacional. Em 2019, a marca lançou uma coleção limitada ao lado de Gilberto Gil, que trouxe à peça trechos de suas músicas sobre liberdade. No mesmo ano, Elza Soares assinou outra linha, celebrando a força da mulher negra.
Outras parcerias notórias incluem:
- Uma série de camisetas inspiradas nas obras da artista mexicana Frida Kahlo, lançada em 2021.
- Um conjunto de estampas literárias com o escritor Ariano Suassuna, que reinterpretou personagens do “Auto da Compadecida”.
Essas colaborações não só ampliam o alcance da marca, mas também reforçam seu posicionamento de “moda que conta histórias”.

Iniciativa social: produção dentro da penitenciária
Em 2020, a Chico Rei deu um passo ousado ao abrir uma unidade de produção dentro da Penitenciária Professor Ariosvaldo Campos Pires, localizada em Juiz de Fora. O laboratório emprega presos que, por meio da costura, aprendem um ofício e recebem salário que pode ser usado para apoio às famílias.
“É um jeito de transformar o cárcere em um espaço de reinserção”, diz Bruno, explicando que a iniciativa também reduz custos de produção e traz um significado extra para cada peça vendida.
Até 2023, mais de 150 internos passaram pela oficina, e a linha de camisetas produzidas ali ganhou um selo especial de responsabilidade social, apreciado por consumidores conscientes.
Quase disputa legal com Milton Nascimento
O título original da reportagem da Exame menciona que a marca "quase foi processada" pelo cantor Milton Nascimento. Segundo fontes próximas, o episódio ocorreu em 2022, quando a Chico Rei lançou uma estampa que utilizava a frase “Coração de Criança”, parte de um dos maiores sucessos de Milton.
Os advogados de Milton enviaram uma notificação de violação de direitos autorais, mas a equipe de Bruno negociou rapidamente, retirando a arte e oferecendo uma colaboração futura como forma de reparação. O acordo evitou o litígio e acabou rendendo uma nova coleção que homenageia a música latina do artista.
O episódio, embora tenso, reforçou a necessidade de atenção aos direitos de propriedade intelectual no universo da moda, onde criatividade e referência caminham lado a lado.
O que vem pela frente
Para 2025, Bruno anuncia duas metas principais: expandir a produção para o interior de São Paulo, mantendo o modelo de inclusão social, e lançar uma linha de roupas sustentáveis feitas 100% com algodão reciclado. A expectativa é que o faturamento ultrapasse os R$ 45 milhões, mantendo a mesma filosofia de crescimento orgânico.
Enquanto isso, consumidores podem esperar mais colaborações surpresa – rumores apontam para um projeto com a cantora Liniker e um convite à artista visual Vik Muniz para criar estampas que misturam arte e tecnologia.

Perguntas Frequentes
Como a parceria com Gilberto Gil impactou as vendas?
A coleção assinada por Gilberto Gil vendeu 12 mil unidades nos três primeiros meses, representando um aumento de 18% no faturamento trimestral da Chico Rei. O sucesso se deve ao forte apelo emocional das letras e à divulgação conjunta nas redes sociais do artista.
Qual é o modelo de remuneração dos presos na penitenciária?
Os internos recebem salário mínimo proporcional às horas trabalhadas, com descontos legais para alimentação e transporte. Parte do valor pode ser destinado diretamente a projetos de educação e saúde dentro da própria prisão.
Por que a marca evita criar FOMO?
Bruno acredita que a "medida da moda" deve ser a durabilidade e o vínculo emocional, não a escassez artificial. Essa visão atrai consumidores que buscam peças atemporais e reduz a rotatividade de estoque, melhorando a margem de lucro.
Qual foi a reação de Milton Nascimento ao acordo?
Milton aceitou o pedido de retratação e elogiou a proposta de colaboração futura, afirmando que “a música e a moda podem dialogar quando há respeito”. O acordo ainda não foi oficializado em comunicado público.
A marca tem planos de exportar?
Sim. A diretoria já firmou contato com distribuidores na Europa e nos EUA, visando lançar um “pop‑up store” em Lisboa em 2026. A estratégia foca em mercados que valorizam moda ética e histórias de origem.
Esse sucesso me deixa arrebatada, como se o céu explodisse em confetes de liberdade!