Ao invés de gritar ordens do canto do tatame, Dida puxa a luva e entra no ringue. Ele não treina atletas — ele luta com eles. Na Evolução Thai, em Curitiba, o treino não é uma aula. É uma batalha real, onde o técnico, ex-lutador das organizações Dream e K-1, enfrenta seus alunos em sparrings brutais, sem proteção excessiva, com o único objetivo: forjar guerreiros. É a chamada "filosofia da porrada" — um método que não pede permissão, não espera o atleta estar pronto. Ele simplesmente o joga no fogo e vê o que nasce.
"Apanho todo dia" — A escola da dor e da transformação
"O Dida é f***. Vejo ele como um espelho", disse Pepey, um dos atletas da Evolução Thai. "Sou forjado no aço. Aqui, apanho todo dia — e não é mentira." Esse não é discurso de motivação. É rotina. Atletas da academia relatam sessões de sparring onde Dida não apenas orienta, mas participa como oponente principal, aplicando golpes reais, exigindo reações instantâneas, testando a mente antes do corpo. "Ele entra na mente dos guerreiros", completou Pepey. "É o mentor da porradaria."
Essa abordagem, aparentemente arcaica, surpreendeu o mundo do MMA. Enquanto academias modernas priorizam dados de desempenho, biomecânica e nutrição personalizada, a Evolução Thai apostou no contrário: a experiência visceral. O resultado? Atletas que passaram de competidores medianos a lutadores do UFC. A foto divulgada pela Infoesporte — mesmo sem nomes específicos — mostra que a academia já tem representantes no mais alto nível do esporte. Não é sorte. É método.
"Não somos os mais bravos, somos os mais estudiosos" — A revolução dos Fighting Nerds
Do outro lado do país, em um ambiente silencioso, cheio de quadros brancos, gráficos e vídeos analisados frame a frame, Fighting Nerds constrói sua própria revolução. Liderada por Pablo Sucupira, o "The Alchemist", a academia não vende imagem de agressividade. Vende inteligência. "Eu não preparo um atleta para vencer simplesmente", diz Sucupira. "Eu misturo emoções e sensações. Busco o máximo da performance dele."
Com mais de 40 atletas e seis no UFC — entre eles Carlos Prates, Maurício Ruffy, Jean Silva e Bruna Brasil — a Fighting Nerds desafia o mito de que lutadores precisam ser brutos para serem bons. Eles são os que estudam os adversários como se fossem equações. Analisam padrões de movimento, microexpressões, ritmos cardíacos em lutas anteriores. Treinam com realidade virtual, usam wearables para monitorar estresse, e até contratarem psicólogos esportivos para lidar com a pressão mental antes das lutas.
"Não somos os mais bravos, nem os mais mau-encarados. Somos apenas os melhores profissionais. Nos dedicamos mais e estudamos mais. Os Fighting Nerds chegaram e nós somos o futuro", escreveu Sucupira em postagem viral. A frase virou mantra. E não é só marketing. É resultado: cinco dos seis lutadores da equipe no UFC venceram por finalização — o que indica precisão tática, não força bruta.
Dois caminhos, um mesmo destino: o topo do MMA
É curioso como essas duas academias, tão diferentes, convergem no mesmo ponto: excelência. A Evolução Thai, com sua filosofia da porrada, acredita que o corpo só se transforma quando é desafiado até o limite físico. A Fighting Nerds acredita que a mente é o verdadeiro octógono — e que vencer é uma questão de cálculo, não de coragem.
Na prática, isso gera dois tipos de lutador: o que se torna indomável por experiência, e o que se torna imbatível por conhecimento. Ambos são perigosos. Ambos estão no UFC. Ambos representam uma nova geração de treinamento no Brasil — onde o passado não é descartado, mas reinventado.
O cenário em expansão: Muay Thai e o caminho para o UFC
Enquanto isso, o Confederação Brasileira de Muay Thai (CBMT) movimenta o cenário nacional. O Campeonato Brasileiro de Muay Thai de 2025, transmitido ao vivo em 8 de novembro de 2025 pelo canal da CBMT no YouTube, teve mais de 16 mil visualizações — um recorde para o esporte no país. A audiência cresce, e com ela, a busca por novos talentos.
Entre eles, Glorinha de Paula, ex-modelo do interior do Paraná, que enfrentou a americana Pauline Macias no UFC Contender Series. Apesar da derrota, sua presença no palco internacional mostrou que o caminho para o UFC não passa mais apenas por grandes centros. Qualquer lugar, com a filosofia certa, pode gerar campeões.
O que vem a seguir?
Agora, o desafio é escalar. A Evolução Thai quer expandir para outras cidades, mas sem perder a essência da porrada. A Fighting Nerds planeja abrir um centro de pesquisa em biomecânica esportiva, com parcerias universitárias. Ambas estão sendo observadas por treinadores da Europa e dos EUA, que tentam entender: como é possível criar campeões com métodos tão distintos?
Uma coisa é certa: o MMA brasileiro não é mais só sobre força ou estilo. É sobre propósito. E cada academia está escrevendo seu próprio livro — um com sangue, outro com dados. Mas ambos, no final, levam ao mesmo lugar: o octógono.
Frequently Asked Questions
Como a "filosofia da porrada" da Evolução Thai difere de métodos tradicionais de treinamento?
Enquanto academias tradicionais usam treinadores como instrutores, Dida atua como oponente ativo, entrando no ringue para sparrings reais com seus alunos. Isso cria uma imersão física e psicológica que força o lutador a reagir sob pressão extrema, sem a segurança de um parceiro controlado. O resultado é um aumento exponencial na resiliência e na tomada de decisão em combate real.
Por que a Fighting Nerds tem tantos lutadores no UFC sem ser uma academia de apelido "durão"?
A Fighting Nerds vence com precisão, não com agressividade. Seus atletas são treinados para identificar padrões de movimento, explorar falhas táticas e aplicar golpes em momentos críticos. Isso resulta em finalizações frequentes — cinco dos seis lutadores da equipe no UFC venceram por finalização. O segredo está na análise de vídeo, neurociência e preparação mental, não na intensidade física bruta.
Qual é o impacto dessas academias no futuro do MMA no Brasil?
Elas quebraram o paradigma de que só grandes centros como São Paulo ou Rio produzem campeões. Curitiba e outras cidades agora são vistos como berços de talentos. Além disso, mostram que o MMA pode evoluir por duas vias: a física extrema e a intelectual profunda. Isso atrai novos atletas, incluindo mulheres e jovens que antes não se identificavam com o modelo tradicional de lutador.
Quais são os riscos dessas abordagens extremas?
A "filosofia da porrada" pode levar a lesões crônicas se não houver acompanhamento médico rigoroso. Já a Fighting Nerds corre o risco de se tornar excessivamente teórica, perdendo a intuição do combate. Ambas as academias estão ajustando seus métodos: a Evolução Thai agora inclui fisioterapia preventiva, e a Fighting Nerds adiciona mais sparrings reais para equilibrar a teoria com a prática.