Salário mínimo em 2025: Portugal sobe para €870 e como EUA e Canadá se comparam

Salário mínimo em 2025: Portugal sobe para €870 e como EUA e Canadá se comparam

Portugal aumenta o piso e muda a régua da comparação

Portugal entrou em 2025 com um aumento direto no bolso dos trabalhadores: o salário mínimo mensal subiu para €870 no continente, €915 na Madeira e €913,50 nos Açores. O país mantém a lógica de 14 pagamentos ao ano (com subsídios de férias e Natal), algo que sempre confunde comparações internacionais. Traduzindo para a base de 12 pagamentos, esse piso equivale a cerca de €1.015 por mês.

Outro ponto que costuma gerar erro é a hora de trabalho. Não existe um valor-hora nacional oficial, porque o piso é mensal. Ainda assim, dá para estimar: considerando 40 horas semanais, a referência mensal de trabalho gira em torno de 173 horas. Nesse caso, o valor-hora implícito do novo mínimo fica por volta de €5,8. Se alguém usar 160 horas como base, o número sobe, mas essa conta não reflete a prática comum de horas mensais no país.

O salto de 2025 vem na esteira de uma trajetória longa. Em 2015, o mínimo nacional era €589,20. A evolução até €870 no continente não apenas recompõe parte da inflação dos últimos anos, mas também reposiciona Portugal dentro da União Europeia. Hoje, o país aparece próximo do meio da tabela europeia: acima de economias como Chipre e um pouco abaixo de países bálticos como a Lituânia.

As diferenças regionais importam. Madeira e Açores partem de valores maiores exatamente para lidar com realidades locais de custo de vida e logística. E há outro motor de alta que tende a puxar salários para cima: os contratos coletivos. Quando o piso legal sobe, muitos acordos setoriais são revisados, e categorias com negociações fortes conseguem empurrar pisos acima do mínimo.

Essa agenda não é isolada. Em outubro de 2024, governo e parceiros sociais fecharam um acordo que vai de 2025 a 2028. A meta é puxar aumentos salariais médios entre 4,5% e 5% ao ano, mirando um salário médio de €1.890 em 2028. Para incentivar o setor privado, o Orçamento de Estado de 2025 criou um estímulo fiscal: empresas que elevarem salários de trabalhadores com contrato sem termo podem deduzir 200% do valor do aumento no IRC. A mensagem é clara — subir salários com base em vínculos estáveis.

Na vida real, o que muda? Para quem ganha o mínimo e tem pouca retenção de IRS, o líquido tende a subir quase na mesma proporção do bruto, descontando a contribuição para a Segurança Social. Em áreas urbanas caras, como Lisboa e Porto, o ganho pode ser diluído por rendas e transportes. No interior, o mesmo valor compra mais, o que explica parte dos esforços para reequilibrar mercados locais de trabalho.

Comparar pisos entre países exige cuidado. Há sistemas com 12 pagamentos, outros com 13 ou 14. Uns definem piso horário, outros mensal. Há lugares onde o trabalhador recebe gorjetas e um "tipped wage" reduzido, como ocorre em parte dos Estados Unidos. E tudo muda se você converte moedas ao câmbio do dia ou se usa paridade de poder de compra (que aproxima o custo real de vida). Ainda assim, dá para traçar um mapa claro de 2025.

EUA, Canadá e o mosaico internacional

EUA, Canadá e o mosaico internacional

Nos Estados Unidos, o salário mínimo federal segue congelado em US$7,25 por hora desde 2009. Parece baixo — e é —, mas a fotografia nacional engana porque os estados montaram seus próprios pisos. A Califórnia entrou em 2024 com US$16 por hora como base estadual e, em setores como fast-food, subiu a régua para US$20. Washington, D.C. trabalha com valores acima de US$17, e cidades como Seattle e São Francisco operam bem perto (ou acima) de US$19 por hora. Em muitos estados do Sul, no entanto, a realidade ainda é o piso federal. Para 2025, várias jurisdições que indexam o valor à inflação devem anunciar ajustes automáticos, mantendo o país com um mapa salarial desigual por geografia.

O Canadá é outro caso de descentralização, mas com mais previsibilidade. Cada província e território define o seu piso e, na prática, o país opera em uma faixa que vai de cerca de C$15 a C$19 por hora, com territórios do Norte no topo e províncias grandes, como Ontário e Colúmbia Britânica, acima de C$17 após os reajustes de 2024. Muitas regras trazem gatilhos de inflação, então 2025 tende a registrar pequenos aumentos. Como a base é por hora, o contracheque mensal muda conforme as horas efetivamente trabalhadas.

Na Europa Ocidental, França e Espanha são bons termômetros. A França defende um SMIC com reajustes automáticos para inflação e ganhos de produtividade. Em 2024, o valor bruto mensal ficou próximo de €1.770 para 35 horas semanais, com nova revisão tradicionalmente feita em janeiro. A Espanha saiu de um patamar baixo há poucos anos e acelerou o SMI: em 2024, ficou em €1.134 brutos por mês em 14 pagamentos (o equivalente a €1.323 em 12). O governo espanhol tem sinalizado continuidade dos ajustes, mantendo o poder de compra das faixas mais baixas.

Outros vizinhos ajudam a calibrar a régua de Portugal. A Alemanha trabalha com piso por hora — foi para €12,41 em 2024 e deve manter-se acima de €12 em 2025, enquanto a Holanda adotou um modelo de mínimo por hora em 2024 e vem atualizando de forma automática. O Leste europeu segue subindo: países bálticos e da Europa Central aceleraram aumentos nos últimos anos, em parte para segurar fuga de mão de obra e alinhar-se às metas da diretiva europeia sobre salários adequados.

Na Ásia-Pacífico, a fotografia é variada. A Nova Zelândia elevou o mínimo para NZ$23,15 por hora em 2024 e costuma revisar anualmente com base em inflação e renda mediana. A Austrália entrou no novo ano fiscal com um piso nacional de A$24,10 por hora, referência que cresce junto com decisões do órgão de salários. A Coreia do Sul aprovou para 2025 um mínimo de 10.030 won por hora — o que dá algo ao redor de 2,1 milhões de won por mês na referência de 209 horas, uma medida usada localmente.

Esses números, isolados, contam só parte da história. Quando se compara salários com custo de vida, o ranking se mexe. Um trabalhador que recebe €870 no interior de Portugal pode sustentar um orçamento básico com mais folga do que alguém com US$16 por hora em Los Angeles, onde aluguel e transporte drenam quase tudo. É por isso que analistas usam paridade de poder de compra (PPP) para relativizar moedas e preços locais. Em PPP, países com aluguéis controlados, transporte público acessível e alimentação mais barata ganham posições.

Também pesa o desenho do Estado social. Na França, benefícios de habitação, saúde e transporte amortecem o impacto do custo de vida nas grandes cidades. Na Espanha, subsídios e contratos coletivos cobrem uma parcela maior da força de trabalho. No Canadá, créditos fiscais e benefícios provinciais ajudam famílias de baixa renda. Nos Estados Unidos, a rede de proteção varia muito entre estados e municípios, o que aumenta a importância de pisos locais mais altos.

Quer uma forma simples de comparar? Olhe para horas de trabalho necessárias para pagar o aluguel de um T1 fora do centro. Em Lisboa, um T1 simples pode consumir metade (ou mais) do salário mínimo líquido. Em Madrid e Paris, a relação é parecida nas áreas centrais, mas melhora quando se vai para periferias com transporte eficiente. Em cidades como Toronto, Vancouver, Nova York e San Francisco, a conta costuma explodir se a pessoa depende só do piso local.

No campo das empresas, o debate é outro: margem e produtividade. Setores intensivos em mão de obra — limpeza, segurança, hotelaria, restauração — sentem mais a alta dos pisos. Em Portugal, o incentivo fiscal de 200% no IRC busca aliviar esse choque para quem formaliza aumentos em contratos estáveis. Em mercados com baixa produtividade, o risco é de repasse de custos para preços finais; em setores com ganho de eficiência e escala, há espaço para absorção com menos impacto.

O que observar em 2025? Três vetores. Primeiro, a inflação: se continuar moderando na Europa, os aumentos reais tendem a aparecer no carrinho do supermercado. Segundo, a negociação coletiva: a diretiva europeia sobre salários adequados estimula países a ampliarem a cobertura de convenções (a meta de referência é 80% de cobertura). Terceiro, a política local: em anos de aperto orçamental, governos preferem incentivos fiscais e acordos plurianuais a saltos abruptos de piso.

Para quem precisa de um quadro rápido, aqui vai um resumo por faixas e características, com base nas regras vigentes e nos ajustes mais recentes anunciados para o ciclo 2024/2025:

  • Portugal: €870/mês no continente, €915 na Madeira e €913,50 nos Açores (14 pagamentos). Aproximadamente €1.015/mês em base de 12. Valor-hora implícito próximo de €5,8 conforme carga horária.
  • Espanha: SMI de €1.134/mês em 14 pagamentos em 2024 (equivalente a €1.323 em 12). Reajuste anual em discussão para 2025.
  • França: SMIC bruto por volta de €1.770/mês em 2024 para 35h semanais, com revisão automática geralmente em janeiro.
  • Alemanha: mínimo por hora acima de €12 (foi €12,41 em 2024), mantendo referência horária elevada no bloco.
  • Estados Unidos: federal em US$7,25/h, com estados e cidades entre ~US$10 e mais de US$19/h. Destaques: Califórnia (US$16/h como base estadual; fast-food a US$20), Washington D.C. acima de US$17/h.
  • Canadá: pisos provinciais entre ~C$15 e C$19/h; Ontário e Colúmbia Britânica acima de C$17; territórios do Norte no topo. Ajustes indexados à inflação em várias jurisdições.
  • Nova Zelândia: NZ$23,15/h em 2024; revisão anual típica para alinhamento com inflação e renda mediana.
  • Austrália: A$24,10/h desde julho de 2024; tradição de revisões anuais pelo órgão regulador.
  • Coreia do Sul: 10.030 won/h aprovados para 2025; referência mensal na casa de 2,1 milhões de won considerando 209 horas.

Uma última dica de leitura crítica: ao ver rankings nas redes, verifique se os valores são brutos ou líquidos, se a base é mensal ou horária e quantas parcelas estão consideradas (12, 13 ou 14). Trocar dólares por euros ao câmbio do dia sem olhar preços locais costuma distorcer a realidade. Com esses filtros, dá para entender melhor onde Portugal está hoje — e para onde pode ir se as metas de 2028 saírem do papel.

Alisson Podgurski
Alisson Podgurski

Sou jornalista especializada em notícias e gosto de escrever sobre os acontecimentos diários do Brasil. Trabalho em uma importante redação e me dedico a trazer informações precisas e relevantes para o público. Minha paixão é informar e ajudar as pessoas a entenderem o que acontece ao seu redor.

Escreva um comentário

Seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios estão marcados com *